terça-feira, outubro 24, 2006

Uma reflexão

É tarde. Seguro todos estarão dormindo, mas isso já não faz diferença. As ideias passam, a velocidade tem o silencio da noite. Vale perguntar porque estou só? Acredito que não! Acho que uma moto passou pela esquina, ainda posso ouvi-la se afastando. Outra vez silencio e solidão. Não vou ligar a televisão, seria fácil abandonar-me na ilusão de que o mundo está ao meu alcance. De todas maneiras, o pensamento fastidioso de tantos canais por satélite, a essas horas da madrugada, me cairia como um sal de frutas caducado depois de uma bebedeira. Melhor é tragar em seco meu abandono, e rir de qualquer coisa, buscada com displicência na minha solidão. Outro motor passou pela esquina, dessa vez mais silencioso. Talvez seja um carro de luxo, com assentos de couro e boa música ambiente. Talvez nele exista também alguém só. Mas ele já se afasta pelo asfalto e não nos diremos palavra. Um homem pode tornar-se patético tentando agarrar o mundo com as mãos suadas de solidão. É melhor dar um pontapé na própria existência, e pensar que a vida e uma bola de futebol, safada, descarada de tanto ser chutada de um lado ao outro no campo de batalha. O carro da minha alma gêmea já cruzou a curva do mirante, de onde se pode contemplar a cidade inteira. Barcelona vista de cima é ingenua como uma donzela de pele clara e longos cabelos negros. Negra também é essa noite sem lua, nem fria, nem cálida. Estou como um pássaro protegido em seu ninho, sem vontade de alçar voo em busca de comida. Assim estão expostas minhas ideias, repassadas nesses poucos minutos , sem que eu possa evitar de estar farto de mim mesmo. Assim estão contadas as centenas de vezes que minhas pálpebras abrem e fecham, buscando algum alento na solidão dessa madrugada sem rosto. Outro carro cruzou a esquina e ainda cruzarão tantos outros ,antes que me renda ao peso do cansaço e possa enfim desfrutar de um pouco de sono com paz. Até amanha.