quarta-feira, junho 30, 2010

ESTRADA ESTREITA



As horas passam brancas pela cabeça
com varizes alfinetando a memória vazia.
Já não tem nome,
nem maquina planos,
nem conversa com o espelho,
só silencio trancado com sabor de pó.


O relógio da sala empacou de repente,
petrificou às 5 e pouco da manha.
Sem alarde de ponto final,
enfadou por tanta velhice amassada
numa vida com clausura de gaveta.


Ela também despertou mais cedo.
Não trocou de roupa e nem lavou a cara,
se arrastou com descaso à cozinha
e enganou o café sem tocar em nada.


Sentou no vaso e rezou uma Salve Rainha oca.
Mastigou o plástico do falso rosário,
implorando aos intestinos e às lombrigas aéreas
que ao menos elas dessem sinal de vida.


Como nem merda mais havia
buscou remédio em despedir-se do dia-a-dia.
Beijou as plantas com rego farto,
rabiscou a página da folhinha,
bebeu a água do copo de dentadura,
tirou as pilhas do rádio,
chutou uma barata morta,
escarrou no capacho da porta,
e ganhou a rua deixando a chave dentro.


Caminhou pelo asfalto feito sombra,
articulando seus ossos, de quase farinha,
em passos peregrinos montanha acima,
lá onde dizem que começa o céu.


Pelos cabelos ralos sopravam ventos de outubro.
Os pés descalços, com unhas encravadas de frio,
e as mãos úmidas por um medo que não via,
eram os espigões de um iceberg humano
seguro de que a salvação sempre chega junto com o sol.


Com a boca seca de solidão
recitou o nome de cada filho parido,
relembrou o apelido do padeiro,
o aniversário e o dia de santo do padre,
a morte do marido na guerra,
e o dia vazio de ontem,
olhando a montanha pela janela do quarto.


O primeiro farol veio feito luz divina,
bailando sinuoso pela estrada orvalhada,
e com cheiro de borracha queimada
resvalou ao borde de um mergulho precipício.


O segundo, o terceiro e o quarto,
e todos os demais,
nem se deram conta de que existia,
até que por sorte,
um golpe de ruído seco sem freada
lançou suas ancas em direção a Deus
e recolheu seu crânio numa poça de lágrimas vermelhas.


Horas mais tarde,
rodeada à pino por vizinhos, comandos e fofoqueiros,
despertou com a sirene afiada do rabecão
e o mexerico do boletim de ocorrência.


Viu desde o tártaro dos anjos expulsados
a graça de seu gesto mais original.
Por trás de dedos de látex,
revistando debaixo do lençol decorado de carmim,
guardava na boca enrugada e murcha
um desbotado sorriso com farpas de festa.


SEMANA SANTA



Na solitária e quase morta aldeia de Missano,
encravada a longa vista do salitre Mediterrâneo,
Cristo avança embriagado a passos de sangue,
equilibrado pela fé bruta de braços de ferro.

Com séculos de pedra, do alto do campanário,
já apregoam a chegada triunfal do redentor.
São acordes ordenados sem suspeita,
terna melodia consagrada sem refrão
aos filhos da montanha em procissão de penitência.

Unidos ao redentor, de olhar quase morto na cruz,
passo a passo, como rumo ao calvário,
homens expiram seus pecados corpulentos
na missão de conduzir o Pai ao altar em festa.

Os músculos retesados por força e sacrifício
consumem gestos quase a ponto de explodir.
Cataratas de uma transpiração fétida e nervosa,
encharcam o tempo que falta revezado com  Jesus.

E sob o olhar preocupado de tantas Marias,
mantilhadas de negro e com semblantes flamejantes,
unem-se os eternos matrimônios de carne e alma,
os sexos ainda rebentos em busca de aventura,
os desamparados pela mórbida viuvez,
aquelas crianças atadas com zelo desmedido,
ou aquelas soltas ao destino dos demônios.

Ao cortejo festivo do povoado de Missano
somam-se também cachorros vadios e gatos negros.
e algumas ordinárias Madalenas montanhesas
desdenhadas pela gente como micróbios pestilentos. 

Guiados pela bússola da fé,
sem antídoto de culpa
e afogados na eterna dor do desamparo,
avançam todos em remissão
feito família sem futuro nem coerência.

Com flores de veludo e velas brancas de artifício,
pousarão feito algodão a santa imagem no altar.

Ao final da missa, olharão a Deus de rabo de olho
amarrotados por cada trago atravessado no dia-a-dia.

segunda-feira, junho 28, 2010

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domingo, junho 27, 2010

Miralda @ TABLE

@TABLE from Beloze Produccions on Vimeo.

DUCUMENTAL ARTE. 7 min/color. ESPAÑA, 2009. DIRECCIÓN ZÉ PEIXOTO. PRODUCCION EJECUTIVA BEL.LO TORRAS. FOOD CULTURA EUA/ESPAÑA. Exposición @TABLE, de Miralda, en el Musée International des Artes Modestes, Sete, Francia. VO Frances/Catalan.

Income Generation, Nepal

INCOME GENERATION from Beloze Produccions on Vimeo.

CORPORATIVO SOCIAL. 5 min/color. ESPAÑA, 2009. DIRECCIÓN ZÉ PEIXOTO. PRODUCCION EJECUTIVA BEL.LO TORRAS. PROYECTO ASSOCIACIÓ AMICS DEL NEPAL. BELOZE PRODUCCIONS, BARCELONA. Proyecto de educación para mujeres en la ciudad de Kathmandu, Nepal.

Prazo de Validade / Fecha de Caducidad

FECHA DE CADUCIDAD from Beloze Produccions on Vimeo.

FICCIÓN EXPERIMENTAL. 20 min/color. ESPAÑA/BRAZIL, 2006. DIRECCIÓN ZÉ PEIXOTO. PRODUCCION EJECUTIVA BEL.LO TORRAS. CON GUARÁ RODRIGUES Y MARCIA DUVALLE. VOZ FLORIANO PEIXOTO. BELOZE PRODUCCIONS, BARCELONA. En un mundo controlado por satélites, un fotógrafo sigue a sus víctimas forzando a que ellas se suiciden. La cultura de masas y la manipulación de la información son los temas centrales del texto de Bea Jaguaribe.