POETRY

Cilada de Carnaval

Eu sambo, tu sambas, ele samba...
até que acabe a paciência
e não saiba mais onde meti  o meu crachá.
Solta o canapé e uma roda de batida,
controla o checkin dos vips sem dar na pinta,
tira aquele fotografo da frente,
corta a bebida daquela fulana,
segura um minuto a entrada da bateria
porque o prefeito ainda não voltou do pipi.
Pede o carro em duas horas,
repassa a conta do banco na segunda,
e se alguém tirar foto no finger
procura saber de que revista é.
Ufa... ainda bem que sobra pitomba por aqui!

lunes, julio 05, 2010

O RESTAURADOR

Aqui vivem cupins e traças
nutridos por séculos de biografia oculta.
A serragem se acumula pelos quatro cantos
feito poeira de ossos talhados de troncos
sem jazigo num cemitério de móveis por remendar.

Pelas esquinas abarrotadas de trastos,
escondem-se pontas carburadas de boa erva,
e pedaços ressecados de papel higiênico
consumidos pelo sofrego limite da razão.
São delírios solitários e punhetas sem consolo.

Estéfano é um homem reto e plano,
sobrevive do oficio de restaurar abandonos
enquanto segue buscando um verdadeiro amor.
As mulheres já foram tantas
que as casas montadas e desmontadas de esperança
poderiam encher os salões de Versailles.

A cada desilusão mais trabalho.
Talvez para encher o vazio da cama
e compensar a fome insolente,
palitando os dentes desleixados na mesa sem toalha.

As roupas manchadas, esgarçadas e sem botões
alertam que as restaurações precisam ser perfeitas.

É que Estéfano tem somente pra mastigar
um dente de ouro por cada amor fracassado.
E quando sorri por engano,
magoado pela afeição morta do seu coração de lenha,
a boca brilha mais que o sol ardente do deserto
e seus olhos apagados reluzem noite de lua nova.

Mesas, camas, armários, cadeiras,
serrotes, chaves, lixas, alicates,
martelos, plainas, pregos e parafusos,
enchem o tempo esperando um novo amor,
enquanto pela radio coberta de pó
acompanha uma partida qualquer de futebol.

AP7

A península escapa ressentida pela AP7,
se esfrega úmida pelo asfalto ensanguentado de dramas.
São vidas que temperam a miscelânea moderna
de uma índole sem fisionomia, nem salvaguarda.

Nas filas acavaladas dos pedágios automáticos,
juntam-se ruídos distintos de destinos sem interseção.
Roncam mais forte os motores envenenados pela potencia capital,
típicos do norte frio de emoção e paciência civilizada.
Parecem agonizar os remendados pela carência migratória,
com olhares arregalados e um silêncio submisso.
Somam-se outros mais, suspeitosos de atos ilícitos,
caminhões abarrotados de comércio limpo e urgente,
e caravanas displicentes de turistas ingênuos e gordurosos.

No carro de família, todo recauchutado,
a prole marroquina quase salta pela janela.
Não há espaço livre para agonizar
sequer uma última saudade da terra natal.

O esportivo negro conversível
exala a última fragrância fashion de Paris.
Acercada ao retrovisor cromado,
num sutil retoque de maquiagem,
a loura russa se reflete ardilosa ao volante.

Ainda que sob o manto do trabalho,
as linhas brancas na cabina do caminhão
sucumbem ao rigor da tarjeta de credito
enfiando mais um tiro de cocaína.

O aventureiro cigano, abarrotado de pulseiras de ouro
cantarola flamenco com a mulher prenha marcando palmas.
No banco detrás, sonhando com a torradeira andaluza,
a sogra vestida em luto eterno
descasca um pêssego com canivete.

Seriam tantos outros retratos indivisíveis
à espera de que a cancela se abra,
que as almas lacradas da AP7 resultariam poucas.
Talvez os marroquinos, a russa,
a cocaína, os ciganos e os turistas do norte
jamais cheguem aos seus destinos.

EXTRA

Queria ser livre,
repicar vozes de um interno obscuro.
Desejava recuperar vértices aparados de consciência
que o silêncio talha em omissão.

Acreditava no seu próprio espírito
liberto das demais pessoas.
Não conjugava mais a primeira voz
do exato verbo existir.

Na angustia da solidão desamparada
declinava medos e dúvidas turvas,
ressonando outras vozes
sem saber o tom daquilo que era próprio.

Ser conciso não lhe tocava.
Teve roubada a métrica que permitia a oração perfeita.

Hoje, foge de espaços impessoais,
dessas imposições aceleradas que passam pelas vistas,
quando tudo é neblina,
fluido em membranas glaucômicas
com senso de não transparência.

É boca calada.
Se toca o telefone não é para ele.
Os oceanos se afastam daquilo que foi porto,
e enormes ondas vorazes
tragam seus instintos em sulcos abismais.

Na caixa do correio
busca com a ponta enrugada dos dedos
o vazio de notícias que vivem submersas
entre corais afiados em mutação de vida.

Quer gritar, mas está morto!

O GENOVÊS

Nunca rastejou no encalce de bandido.
Era capo puro sangue genovês,
investigador de ouro da polícia de elite.

Com olfato fidalgo de caçador perdigueiro,
traçava de memória pista por pista
e cantava chave certeira sempre ao final.

Menino, já escapulia de emboscada
na rixa fratricídio entre vermelhos e fascistas.

Aprendeu a contar com eco de rajada
e a gostar de sexo, cuspindo em buraco de bala.
Com ricochetes assoviando pedra,
trocou de voz saltando poças de sangue
e secou lágrimas sem nunca saber chorar.
Compreendeu também porque em combate
a morte sabe sempre a gosto macho.
Viu fenecer o pai, os tios e o irmão mais velho
com o fardo amargo de sobreviver varão.

Pelas fúnebres vielas da Ligúria em pé de guerra,
sabia o sobrenome e o dialeto de cada desgraça.
Já não confiava mais na justiça de Deus
nem tão pouco no vômito dos homens,
mijando artilharia do alto dos campanários.

Bala jamais lhe passou rente à cabeça
a deixar zonzo o tímpano assustado.
Nem sacou pistola, nem matou bandoleiro
sem ditar justiça com o próprio gatilho.

Esmiuçava cada delito indecifrado
com alma detalhada de artífice,
com tal obsessão milimétrica
que buscava ciência em poeira,
lupa, microscópio e neurônios,
afiados como única munição contra o destino.

Com o cansar inevitável dos anos,
buscou no sorriso com meio dente,
graça na desgraça dos ossos do ofício.
Tricotava ingênuo mitos de bandidos e mocinhos
estirado no tapete felpudo da sala,
babado de açúcar pelos netos,
mimado pelo pastor e pelo gato,
como se as primaveras não estivessem gastadas
e fosse ainda metade grande
e metade moleque travesso.

A família sim, tinha moldura especial de ouro,
muito mais que as medalhas e comendas
arrebatadas por honra ao mérito
e guardadas numa velha caixa de sapatos.

miércoles, junio 30, 2010

ESTRADA ESTREITA



As horas passam brancas pela cabeça
com varizes alfinetando a memória vazia.
Já não tem nome,
nem maquina planos,
nem conversa com o espelho,
só silencio trancado com sabor de pó.

O relógio da sala empacou de repente,
petrificou às 5 e pouco da manha.
Sem alarde de ponto final,
enfadou por tanta velhice amassada
numa vida com clausura de gaveta.

Ela também despertou mais cedo.
Não trocou de roupa e nem lavou a cara,
se arrastou com descaso à cozinha
e enganou o café sem tocar em nada.

Sentou no vaso e rezou uma Salve Rainha oca.
Mastigou o plástico do falso rosário,
implorando aos intestinos e às lombrigas aéreas
que ao menos elas dessem sinal de vida.

Como nem merda mais havia
buscou remédio em despedir-se do dia-a-dia.
Beijou as plantas com rego farto,
rabiscou a página da folhinha,
bebeu a água do copo de dentadura,
tirou as pilhas do rádio,
chutou uma barata morta,
escarrou no capacho da porta,
e ganhou a rua deixando a chave dentro.

Caminhou pelo asfalto feito sombra,
articulando seus ossos, de quase farinha,
em passos peregrinos montanha acima,
lá onde dizem que começa o céu.

Pelos cabelos ralos sopravam ventos de outubro.
Os pés descalços, com unhas encravadas de frio,
e as mãos úmidas por um medo que não via,
eram os espigões de um iceberg humano
seguro de que a salvação sempre chega junto com o sol.

Com a boca seca de solidão
recitou o nome de cada filho parido,
relembrou o apelido do padeiro,
o aniversário e o dia de santo do padre,
a morte do marido na guerra,
e o dia vazio de ontem,
olhando a montanha pela janela do quarto.

O primeiro farol veio feito luz divina,
bailando sinuoso pela estrada orvalhada,
e com cheiro de borracha queimada
resvalou ao borde de um mergulho precipício.

O segundo, o terceiro e o quarto,
e todos os demais,
nem se deram conta de que existia,
até que por sorte,
um golpe de ruído seco sem freada
lançou suas ancas em direção a Deus
e recolheu seu crânio numa poça de lágrimas vermelhas.

Horas mais tarde,
rodeada à pino por vizinhos, comandos e fofoqueiros,
despertou com a sirene afiada do rabecão
e o mexerico do boletim de ocorrência.

Viu desde o tártaro dos anjos expulsados
a graça de seu gesto mais original.
Por trás de dedos de látex,
revistando debaixo do lençol decorado de carmim,
guardava na boca enrugada e murcha
um desbotado sorriso com farpas de festa.

SEMANA SANTA



Na solitária e quase morta aldeia de Missano,
encravada a longa vista do salitre Mediterrâneo,
Cristo avança embriagado a passos de sangue,
equilibrado pela fé bruta de braços de ferro.

Com séculos de pedra, do alto do campanário,
já apregoam a chegada triunfal do redentor.
São acordes ordenados sem suspeita,
terna melodia consagrada sem refrão
aos filhos da montanha em procissão de penitência.

Unidos ao redentor, de olhar quase morto na cruz,
passo a passo, como rumo ao calvário,
homens expiram seus pecados corpulentos
na missão de conduzir o Pai ao altar em festa.

Os músculos retesados por força e sacrifício
consumem gestos quase a ponto de explodir.
Cataratas de uma transpiração fétida e nervosa,
encharcam o tempo que falta revezado com  Jesus.

E sob o olhar preocupado de tantas Marias,
mantilhadas de negro e com semblantes flamejantes,
unem-se os eternos matrimônios de carne e alma,
os sexos ainda rebentos em busca de aventura,
os desamparados pela mórbida viuvez,
aquelas crianças atadas com zelo desmedido,
ou aquelas soltas ao destino dos demônios.

Ao cortejo festivo do povoado de Missano
somam-se também cachorros vadios e gatos negros.
e algumas ordinárias Madalenas montanhesas
desdenhadas pela gente como micróbios pestilentos. 

Guiados pela bússola da fé,
sem antídoto de culpa
e afogados na eterna dor do desamparo,
avançam todos em remissão
feito família sem futuro nem coerência.

Com flores de veludo e velas brancas de artifício,
pousarão feito algodão a santa imagem no altar.

Ao final da missa, olharão a Deus de rabo de olho
amarrotados por cada trago atravessado no dia-a-dia.

sábado, diciembre 30, 2006

Tiroteio na Brasil

Salpicaram a Avenida Brasil de sangue,
vinte mortos no total.
Alguns dizem que era tudo bandido.
Outros dizem que havia dois santos,
um de dois e outro de quatro.
Fiquei sabendo do resto depois da novela,
edição extra daquela reporter de cabelo curtinho.
O resto da dobradinha de ontem
chegou a ficar parado na goela.
Que mundo é esse, meu Deus?
Tão matando até anjinho.
De manhã fui comprar pão
e tava tudo estampado na primeira.
O medo fermentou dentro de mim
feito o pão nosso com café preto de cada dia.
Nem caguei pra aliviar as tripas,
com tanto peso de morte na cabeça.
Que vida é essa, meu Deus?
Que posso fazer de manhã
pra de noite não virar notícia?
As crianças não vão a escola!
Quero todo mundo protegido em casa,
e nem pensar em bola no quintal
Pra que estudar com tanta bala perdida?
E a mulher também não vai a feira,
quero que fique deitada na cama,
longe da janela.
E eu,
que não tenho medida de remendo,
vou pegar o lotação tremendo
e deslizar pela cidade inteira
olhando o Cristo quando der.
E se de noite eu voltar, melhor.
Amanhã pode ser outro dia!
Com escola,
com feira,
e esperanza.

miércoles, diciembre 27, 2006

Coitadinha da Claudete

Peguei o trem na Piedade,
tava cheio que era um horror.

Naquele empurra empurra de roça bunda
passou o vendedor de paçoca.
Suava com cheiro de amendoim torrado
e vendia miseria pela boca sem vergonha e desdentada.

Dizem que um surfista morreu às sete,
calculou mal a viga
e voou feito ratazana esmigalhada.

Saltei do trem no Encantado,
só pra comprar Mentex.
Meu hálito tinha pinta de morte
e isso pela manha merece bala.

E por falar em bala,
nada doce foi a morte da pobre da Claudete,
desavisada que os homens tinham subido
atirando azeitona na empada de bandido.

Dizem que uma bala passou da costela
e morreu no meio do coração dela.

Coitada da Claudete,
logo agora que já fazia "mizamplí"
e tinha encontrado amizade pra dividir um conjugado na Praia do Flamengo.

Voltei a pegar o trem,
êta vidinha sem graça!

Tô seguro que hoje chego atrasado,
meia hora ao menos.
E só de pensar na fila do banco
pergunto a patrão la de cima:
porque não fui no lugar do surfista e da Claudete?

sábado, diciembre 23, 2006

O DESERTO

Finquei meu pé na areia do deserto
e perguntei a mim mesmo: que faço aqui?
Ventania, minhas pegadas eram efêmeras
e se dissipavam ao sabor das rajadas vindas do norte.

Olhei pra trás e nem sombra dos meus passos,
o deserto era imenso e sem história,
sem começo, sem destino, sem revés.

Pensei duas vezes na vida.
A primeira com medo de me perder pra sempre,
sem caminho de volta,
sem remédio.
A segunda me chegou mais branda,
com voz de esperança,
levada pela fina nuvem de areia que me consumia alma adentro.

Da primeira vida, a do receio,
tirei uma foto que guardo ao lado da cama,
Protege meus sonhos de infância e meus pesadelos de morte.
Da segunda vida, a da essência amiga dos vermes inocentes,
escrevi um poema na areia,
artimanhado letra por letra
para que o tempo não lhe deixasse traço.

O deserto pode estar povoado por tantos enganos...
O deserto pode ser mais seco que o silêncio...
O deserto está em ti,
e por isso sei que estavas comigo,
que me vigilavas os passos,
e que se escapei de escorregar tragado por una duna
foi porque me alcançaste a tempo
e me seduziste com a voz do louvor.

MACHU PICCHU

El túnel de Aguas Calientes es tan largo
que el tren te puede matar sin arreglo.
Cuando cruzas la oscuridad y alcanzas el otro lado,
todavía falta mucho,
mucho para que el tren no te atrape de asalto
y fracases para siempre en el intento
de alcanzar la montaña sagradas de las vírgenes incas.

Ahora, que tus pies ya han salido del negro
y la luz de la mañana, afectada por la bruma diáfana,
da a tu cuerpo la dimensión de una purificación segura,
solo te falta ganar paso a paso la ruta hacia la cumbre del mundo.

Y una vez que las piedras te enseñen la magia de los dioses,
encajadas una a una en la acción sacrificada del hombre
basta solo a ti oír el ultimo canto de las diosas
sacrificadas en el altar del laboratorio astronómico.

Pues entonces, hermano,
has podido entrar en contacto con Dios.
Machu Picchu no sera más una ilusión
ni tan poco seras mas un simples mortal.

El encuentro sera eterno,
y los cánticos dormirán siempre en tus oídos.

lunes, noviembre 13, 2006

London, london, london...

I got the rain not in purple
as the time had sweetly gone away
and all purple rock and roll dreams were dead.

The woman in the way out of the Notting tube
was not the celluloid legendary Poppings
neither the Queen coming from the Portobelo Market.

All Regent Christmas lights were already on,
and Oxford sidewalks were plenty of compulsive buyers.

I got two Guiness to refresh my soul
and a Tate Modern four split musical movie
gave to David Hockney portraits a different autumn air.

The Bond Street, new and old,
showed me the limit for fashion and desire
with a discrete giant multi colored screen
and a perfect script completed by a lonely red Ferrari.

The future wall also there
the City sky from the ground
with the Loyds Tower and the Foster cristal bullet at my back.

The cabs,
both the blacks and the post modern graphic ones
were as lost as me.

domingo, noviembre 05, 2006

Esquecimento

Não me recordo mais do teu gozo,
ficou apagado naquela ultima lagrima
que derramaste quando fechei a porta.

Dos meus livros também não me recordo mais,
nem das roupas que usava bem passadas,
nem do numero de teu telefone celular,
nem do código de 6 dígitos do alarme,
nem da conta do banco,
nem dos temperos da comida inventada a dois
quando fazíamos um jantar a luz de velas.

É que os amores sempre são assim,
eternos e frágeis enquanto nos engolimos na cama,
e brancos quando a memoria borra fotos de viagem
e não existem mais confidencias.

Já que o tempo escapa como vento
e que teu corpo já não é o mesmo,
nem o meu t
ão pouco,
o melhor é guardar as marcas do tanto que sofremos.

Mas de uma coisa me recordo bem...
E de outra também,
E por ultimo daquele segredo que guardamos t
ão bem os dois.

O problema é que não vale,
depois de esquecer tantas coisas nossas,
voltar a lembrar de t
ão pouco.


JE TE VOIS

Je te vois
je te vois
je te vois
et rien d´autre
car il y a quelque chose hors de moi
dans ton cœur.

Je te vois
et a moi aussi,
car je suis le centre de ton âme
et de ton visage aussi, parfois double,
où je reprend le sens de la vie.

Je ne te vois pas
ou bien je te vois entière,
car mon âme n´appartient plus à moi.

Je te vois...

miércoles, noviembre 01, 2006

MARY E RUANA

PANCADARIA NA PORTA DA DELEGACIA!
O POVO CLAMA POR JUSTIÇA
E VAI QUEBRAR O PAU COM OS HOMENS.

PRENDERAM SEU VENTURA,
O VELHINHO DA CARROCINHA DE DOCES.
ACHARAM UMA MONTANHA DE TROUXINHAS,
E O DELEGADO DISSE QUE É FLAGRANTE.

O POVO ESTÁ INDIGNADO,
NINGUÉM ACREDITA QUE O SEU VENTURA,
NO MEIO DAS MARIOLAS, COCADAS E PIRULITOS DE CACAU,
ESTIVESSE PASSANDO ERVA DANINHA,
MACONHA MESMO,
QUE NÃO FOSSE BARATA E DA BOA.

SEU VENTURA É UM HOMEM SERIO,
NÃO IA MISTURAR TOXICO COM AÇÚCAR,
NEM AÇÚCAR COM TOXICO,
SE AO INVÉS DE BALEIRO FOSSE TRAFICANTE.

DIZEM QUE O PROBLEMA E QUE A MACONHA TAVA LA,
METIDA DEBAIXO DAS PAÇOCAS,
AO LADO DOS PACOTINHOS DE AMENDOIM DE UM CRUZEIRO.

MAS ISSO AGORA VIROU QUESTÃO COM A JUSTIÇA,
SEU VENTURA FOI PRO XILINDRÓ,
SOZINHO E ABANDONADO PELA FÊ E PELA IGREJA.
TALVEZ ACABE QUEIMADO NA PRACINHA,
OU LHE CORTEM UMA DAS MÃOS E VIRE MÁRTIR,
MÁRTIR SANTO DAS TROUXINHAS.

A DONA ESTHER,
A QUE É JUDIA E NÃO DESPENDURA DA JANELA,
ACHA QUE A CULPA É DAS FILHAS DO DELEGADO,
ESSAS SIM!, METIDAS COM DROGA,
MAS COM AS COSTAS QUENTES DO PAPAI NA COMISSARIA.

É BEM POSSÍVEL
QUE ESSAS DUAS MENINAS,
A MARY E A RUANA,
SEJAM O ESTOPIM DESSA TRAGEDIA COM O SEU VENTURA.

NÃO SEI COMO VAMOS PASSAR
QUANDO AS CRIANÇAS SAIAM DA ESCOLA.

A CARROCINHA FOI LEVADA PELA PERICIA,
SEU VENTURA NA GAIOLA,
E AS CRIANÇAS SEM NADA DE AÇÚCAR PRA ACALMAR.
PANCADARIA NA PORTA DA DELEGACIA!
O POVO CLAMA POR JUSTIÇA
E O PAU VAI QUEBRAR COM A POLICIA.

martes, octubre 31, 2006

MEUS FILHOS

Vão passando os anos,
vão passando os dias,

se somando horas,
minutos, segundos...

V
ão crescendo as vozes,
vão saindo os pelos,

e os medos,
e os amores,
e eu espreitando tudo de longe,
com o nariz cheirando o coração deles.

Vou perdendo as pernas,
vai passando o tempo,
e o vento soprará cada vez mais brando
ate que de todo eu me apague.

Mas sempre vai viver acesa,
mesmo depois das fronteiras do céu,
essa fonte de água tao clara
onde a cada instante bebo o amor por meus filhos.

Cada domingo

Ela me pedia sempre que eu fingisse que era domingo.
Inventava no despertador um ruido de mentira amorosa
e até no canto dos pássaros,
que depois que ela acordava
gorjeavam como se nunca houvesse segunda-feira.

Eu aceitava
e até acreditava que todos os dias eram domingos.

Pois com ela, as manhas vinham ao sabor de um outro gosto,
sobravam sempre restos de amor no lençol,
e também nas fronhas.

E até o barulho da água ensaboada da ducha,
escorregava doce por nosso anseio a quatro orelhas.
Um dia me fui para sempre.
Rasguei nossos fusos horários
e cruzei o planeta furando o globo em 24 horas.
Peguei o elevador ainda pensando que era domingo,
e no jornaleiro me equilibrei entre as maletas
e as manchetes borrosas da primeira página.
Era uma quarta-feira,
mais cinza que as cinzas do calendário,
E eu voltava a viver uma semana de sete dias,
de segunda a segunda,
sem ela,
sem sonho de tempo ancorado no domingo.

martes, octubre 24, 2006

El desierto azul

Eran dunas y infinitas dunas
que parecían alcanzar la luna,
de un intenso amarillo arena,
capaz de quemar retinas, amplio como el oro.

Eran dunas y dunas 
y dunasy dunas y dunas y dunas y dunasy dunas y dunas y dunas y dunas
y dunas 
y dunas y dunas y dunas
y dunas 
y dunas y dunas y dunas...

Y hacia donde mirara
sentía la misma sensación de vacío,
hueco pleno de misterio, integral.
Por la pista de arena torrada,
las marcas del ultimo Land Rover
perecían tener siglos de historia.

¡Nadie se había aventurado a volver aquí!
Lo habían olvidado todo y se acojonaron a volver.
Por eso mi encuentro guarda tanta voracidad
y esas dunas tienen su sentido único,
mi momento de eterno amarillo.

Caminé sin darme cuenta del tiempo,
el viento cortaba intermitente
y con el me escapaban los minutos y la consciencia.
La arena fina hacia olas en el aire
y borraba la marca de mis pies por el destino.


Creo que al final de la mañana he tenido la revelación azul.

El sol estaba todavía más fuerte,
me ofuscaba robándome la dirección.
Podía estar seguro de haber cogido la
 buena ruta,
pero en seguida,
me perdía en mi mismo, sin rumbo, sin deseos.
Fue cuando de pronto todo se transformó en azul,
la arena amarilla en azul,
el sol en azul,
el aire en azul,
mi piel en azul,
mis pensamientos in blue.

Alface e lágrimas

Maria foi ao mercado
e saiu de lá carregando pouca comida.

É que faltava dinheiro,
tempo havia de sobra.

Andou, andou, fez até bolhas nos pés.
E que fique claro que o prego não foi por carregar peso.
É que Maria,
meio cara de triste, meio cara de puta,
mal conseguiu encher pela metade a bolsa das compras.
E mesmo assim porque só comprou muita verdura,
quase tudo salada,
que faz volume na geladeira,
e faz volume também na alma da fome.

José,
que já não aguenta mais o desemprego,
ficou esperando Maria voltar com sua meia sacola.
José de burro não tem nada,
sabe contar tostões como um craque.

E sabia que vinha tudo salada, volume verde da situação preta.
José olhava pela janelinha da cozinha do sétimo andar,
equilibrando a vida na ponta de um banco.
Olhava Maria, olhava a alface,
e também o asfalto, esperando que ele tivesse culhões.

Aí José e Maria sentaram os dois à mesa
e comeram em silencio, calando verdades.
O paliteiro ficou guardado,
evitando memória de carne de vaca.

Tampouco puseram guardanapos, evitando azeite.
Os palavras foram poupadas com água,
goles abundantes,
tentando disfarçar o sal carregado

pra dizer à boca que existe algo em fartura.
Mais tarde,
lá pelas tantas da madrugada quente,
Maria e José farão par no colchão de crina.
Felicidade é poder desatar toda a água e o sal da janta
em lágrimas casadas com o que vai faltar na compra do dia seguinte.

sábado, octubre 21, 2006

¡Todavía no!

Todavía estoy buscando las palabras.
Sé que tu no tienes prisa,
ya que mismo sin conocerme
tienes la paciencia de los demonios.

Y tus demonios son infantiles,
se despistan con un trozo de dulce,
con unas palomitas a la entrada del cine,
con una queda libre desde una montaña russa.

Las estoy buscando las palabras,
ellas vendrán.

Y cuando me escapen entre los dedos,
haciéndome cosquillas
y dejando que el sudor se convierta en miel,
estaremos juntos de alguna manera.

Compartir la felicidad es solo una decisión,
un acto sencillo de amor
que transciende el tiempo y las ventanas.

Las palabras saldran ¡no te preocupes!
Aqui seguiré!
Búscate el momento justo!