sábado, dezembro 30, 2006

Tiroteio na Brasil

Salpicaram a Avenida Brasil de sangue,
vinte mortos no total.
Alguns dizem que era tudo bandido.
Outros dizem que havia dois santos,
um de dois e outro de quatro.
Fiquei sabendo do resto depois da novela,
edição extra daquela reporter de cabelo curtinho.
O resto da dobradinha de ontem
chegou a ficar parado na goela.
Que mundo é esse, meu Deus?
Tão matando até anjinho.
De manhã fui comprar pão
e tava tudo estampado na primeira.
O medo fermentou dentro de mim
feito o pão nosso com café preto de cada dia.
Nem caguei pra aliviar as tripas,
com tanto peso de morte na cabeça.
Que vida é essa, meu Deus?
Que posso fazer de manhã
pra de noite não virar notícia?
As crianças não vão a escola!
Quero todo mundo protegido em casa,
e nem pensar em bola no quintal
Pra que estudar com tanta bala perdida?
E a mulher também não vai a feira,
quero que fique deitada na cama,
longe da janela.
E eu,
que não tenho medida de remendo,
vou pegar o lotação tremendo
e deslizar pela cidade inteira
olhando o Cristo quando der.
E se de noite eu voltar, melhor.
Amanhã pode ser outro dia!
Com escola,
com feira,
e esperanza.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Coitadinha da Claudete

Peguei o trem na Piedade,
tava cheio que era um horror.

Naquele empurra empurra de roça bunda
passou o vendedor de paçoca.
Suava com cheiro de amendoim torrado
e vendia miseria pela boca sem vergonha e desdentada.

Dizem que um surfista morreu às sete,
calculou mal a viga
e voou feito ratazana esmigalhada.

Saltei do trem no Encantado,
só pra comprar Mentex.
Meu hálito tinha pinta de morte
e isso pela manha merece bala.

E por falar em bala,
nada doce foi a morte da pobre da Claudete,
desavisada que os homens tinham subido
atirando azeitona na empada de bandido.

Dizem que uma bala passou da costela
e morreu no meio do coração dela.

Coitada da Claudete,
logo agora que já fazia "mizamplí"
e tinha encontrado amizade pra dividir um conjugado na Praia do Flamengo.

Voltei a pegar o trem,
êta vidinha sem graça!

Tô seguro que hoje chego atrasado,
meia hora ao menos.
E só de pensar na fila do banco
pergunto a patrão la de cima:
porque não fui no lugar do surfista e da Claudete?

sábado, dezembro 23, 2006

O DESERTO

Finquei meu pé na areia do deserto
e perguntei a mim mesmo: que faço aqui?
Ventania, minhas pegadas eram efêmeras
e se dissipavam ao sabor das rajadas vindas do norte.

Olhei pra trás e nem sombra dos meus passos,
o deserto era imenso e sem história,
sem começo, sem destino, sem revés.

Pensei duas vezes na vida.
A primeira com medo de me perder pra sempre,
sem caminho de volta,
sem remédio.
A segunda me chegou mais branda,
com voz de esperança,
levada pela fina nuvem de areia que me consumia alma adentro.

Da primeira vida, a do receio,
tirei uma foto que guardo ao lado da cama,
Protege meus sonhos de infância e meus pesadelos de morte.
Da segunda vida, a da essência amiga dos vermes inocentes,
escrevi um poema na areia,
artimanhado letra por letra
para que o tempo não lhe deixasse traço.

O deserto pode estar povoado por tantos enganos...
O deserto pode ser mais seco que o silêncio...
O deserto está em ti,
e por isso sei que estavas comigo,
que me vigilavas os passos,
e que se escapei de escorregar tragado por una duna
foi porque me alcançaste a tempo
e me seduziste com a voz do louvor.

MACHU PICCHU

El túnel de Aguas Calientes es tan largo
que el tren te puede matar sin arreglo.
Cuando cruzas la oscuridad y alcanzas el otro lado,
todavía falta mucho,
mucho para que el tren no te atrape de asalto
y fracases para siempre en el intento
de alcanzar la montaña sagradas de las vírgenes incas.

Ahora, que tus pies ya han salido del negro
y la luz de la mañana, afectada por la bruma diáfana,
da a tu cuerpo la dimensión de una purificación segura,
solo te falta ganar paso a paso la ruta hacia la cumbre del mundo.

Y una vez que las piedras te enseñen la magia de los dioses,
encajadas una a una en la acción sacrificada del hombre
basta solo a ti oír el ultimo canto de las diosas
sacrificadas en el altar del laboratorio astronómico.

Pues entonces, hermano,
has podido entrar en contacto con Dios.
Machu Picchu no sera más una ilusión
ni tan poco seras mas un simples mortal.

El encuentro sera eterno,
y los cánticos dormirán siempre en tus oídos.