quarta-feira, dezembro 27, 2006

Coitadinha da Claudete

Peguei o trem na Piedade,
tava cheio que era um horror.

Naquele empurra empurra de roça bunda
passou o vendedor de paçoca.
Suava com cheiro de amendoim torrado
e vendia miseria pela boca sem vergonha e desdentada.

Dizem que um surfista morreu às sete,
calculou mal a viga
e voou feito ratazana esmigalhada.

Saltei do trem no Encantado,
só pra comprar Mentex.
Meu hálito tinha pinta de morte
e isso pela manha merece bala.

E por falar em bala,
nada doce foi a morte da pobre da Claudete,
desavisada que os homens tinham subido
atirando azeitona na empada de bandido.

Dizem que uma bala passou da costela
e morreu no meio do coração dela.

Coitada da Claudete,
logo agora que já fazia "mizamplí"
e tinha encontrado amizade pra dividir um conjugado na Praia do Flamengo.

Voltei a pegar o trem,
êta vidinha sem graça!

Tô seguro que hoje chego atrasado,
meia hora ao menos.
E só de pensar na fila do banco
pergunto a patrão la de cima:
porque não fui no lugar do surfista e da Claudete?