sábado, dezembro 23, 2006

O DESERTO

Finquei meu pé na areia do deserto
e perguntei a mim mesmo: que faço aqui?
Ventania, minhas pegadas eram efêmeras
e se dissipavam ao sabor das rajadas vindas do norte.

Olhei pra trás e nem sombra dos meus passos,
o deserto era imenso e sem história,
sem começo, sem destino, sem revés.

Pensei duas vezes na vida.
A primeira com medo de me perder pra sempre,
sem caminho de volta,
sem remédio.
A segunda me chegou mais branda,
com voz de esperança,
levada pela fina nuvem de areia que me consumia alma adentro.

Da primeira vida, a do receio,
tirei uma foto que guardo ao lado da cama,
Protege meus sonhos de infância e meus pesadelos de morte.
Da segunda vida, a da essência amiga dos vermes inocentes,
escrevi um poema na areia,
artimanhado letra por letra
para que o tempo não lhe deixasse traço.

O deserto pode estar povoado por tantos enganos...
O deserto pode ser mais seco que o silêncio...
O deserto está em ti,
e por isso sei que estavas comigo,
que me vigilavas os passos,
e que se escapei de escorregar tragado por una duna
foi porque me alcançaste a tempo
e me seduziste com a voz do louvor.