quarta-feira, fevereiro 19, 2014

NIGHTMARE


Atualmente, sempre que tenho noticias do Brasil, acabo com a sensação que o extremismo anda tomando conta da alma do brasileiro. Carrego essa ferida aberta  na crença de um povo recheado de santos, orixás e mártires em forma de espírito e carne dilacerada. Esse Brasil in extremis de ingenuidade, vem dilatando essa minha revolta em exílio. E isso em várias linhas do pensamento e da ação cívica e social.  As patologias mentais, na dimensão folclórica do inconsciente coletivo brasileiro, podem assumir a carga de um cianureto extremamente ágil e letal na membrana da língua. O língua de trapo, a língua solta, a grande, a língua fraca do desejo de gritar por liberdade, tão vulnerável à ação do veneno instantâneo. Bem diferente da química letal, na homeopatia da convivência civilizada, a noção de civismo não passa pelo respeito e a obediência a nenhuma regra. O civismo existe necessariamente como filho primogênito da união entre a compreensão do direito e a do dever, ambas constituídas pela necessidade premente e orgânica de uma convivência ética. Nesse sentido, ouvir historias de marginais atados em postes, de rifas para custear a penalização de políticos corruptos, de discursos moralizadores com insígnias verde oliva, de partidos de esquerda ou personalidades adotadas pelo liberalismo verborrágico, tudo isso vai gerando um mal estar e uma acidez na boca do estômago, capazes de deixar qualquer um em estado de insanidade gástrica. Não quero pactuar com as elites de uma gauche divine que mal entende o francês, nem com as oligarquias de todos os clãs, rurais e urbanos, acostumados a exagerar na quantidade de comida no prato e sucumbir aos gazes por tanto champanhe falsificado.  Enfim... 


Em ato intermédio, sem que eu saiba onde acaba a tragédia e começa a comédia, sempre acabo perguntando: Que pais é esse sem vergonha, que um dia luta, o outro esquece, que taca fogo, que come merda calado, que se une só porque dois homens deram um beijo na boca em horário nobre, ou porque algum paparazzi pegou em flagrante a presidenta saindo bêbada de um restaurante em Lisboa? Não quero deprimir pensando que meus filhos respiram tanta hipocrisia, enquanto tentam lutar com o que dispõe para alcançar uma vida melhor. Não quero imaginar o que devem sentir todos aqueles que lutaram durante décadas, e que agora vivem no dia a dia a sensação de um reality de quinta categoria. Esse gigante adormecido pode acordar se quiser, e ser um Macunaíma de verdade, preguiçoso, mas verdadeiramente mulato e transgressor.