Salpicaram a Avenida Brasil de sangue,
vinte mortos no total.
Alguns dizem que era tudo bandido.
Outros dizem que havia dois santos,
um de dois e outro de quatro.
Fiquei sabendo do resto depois da novela,
edição extra daquela reporter de cabelo curtinho.
O resto da dobradinha de ontem
chegou a ficar parado na goela.
Que mundo é esse, meu Deus?
Tão matando até anjinho.
De manhã fui comprar pão
e tava tudo estampado na primeira.
O medo fermentou dentro de mim
feito o pão nosso com café preto de cada dia.
Nem caguei pra aliviar as tripas,
com tanto peso de morte na cabeça.
Que vida é essa, meu Deus?
Que posso fazer de manhã
pra de noite não virar notícia?
As crianças não vão a escola!
Quero todo mundo protegido em casa,
e nem pensar em bola no quintal
Pra que estudar com tanta bala perdida?
E a mulher também não vai a feira,
quero que fique deitada na cama,
longe da janela.
E eu,
que não tenho medida de remendo,
vou pegar o lotação tremendo
e deslizar pela cidade inteira
olhando o Cristo quando der.
E se de noite eu voltar, melhor.
Amanhã pode ser outro dia!
Com escola,
com feira,
e esperanza.